A chegada das primeiras doses da Vacina contra a COVID-19 no Brasil traz esperança. Mas essa esperança vem acompanhada de muitas incertezas, especialmente para quem precisa conviver com outras doenças, como o câncer. Por isso, reunimos aqui as orientações para esclarecer as principais dúvidas dos pacientes sobre a indicação da vacinação para quem está ou esteve em tratamento oncológico.
Nos estudos clínicos das vacinas aprovadas para uso emergencial no Brasil não foram incluídos pacientes oncológicos por suas condições de saúde. Consequentemente, não há dados específicos de eficácia, segurança e imunogenicidade. Porém, baseada nas informações científicas disponíveis até o momento e a situação delicada que o Brasil enfrenta frente à pandemia, a Sociedade Brasileira de Oncologia elaborou um guia para os profissionais da área de oncologia com orientações e recomendações técnicas.
Pacientes oncológicos devem ser vacinados contra a COVID-19?
De modo geral, a resposta a esta pergunta é SIM. Pacientes oncológicos são considerados de alto risco para complicações pela COVID-19. Portanto, não existem números específicos para esta população. Mesmo assim, as evidências apontam que os riscos que a vacina possa implicar são menores do que as possíveis complicações que a COVID-19 possa provocar nessa população.
Eficácia da vacina contra COVID-19 para pacientes oncológicos
De acordo com a análise dos dados de vacinação de pacientes oncológicos para outras doenças, como influenza, doença pneumocócica e herpes zoster, pressupõe-se que a segurança da vacina contra o vírus Sars-CoV-2 neste grupo seja similar à população geral. Por exemplo: a Vacina da Gripe é aplicada há alguns anos nos pacientes oncológicos em tratamento de forma segura.
Dependendo do tipo de tratamento oncológico que esteja sendo realizado, a eficácia da vacina contra o vírus Sars-CoV-2 pode ser alterada. Por exemplo, há um estudo, relacionado à vacina contra influenza, que sugere que a administração da vacina no mesmo dia em que é feita a quimioterapia reduz sua eficácia, afetando a resposta imunológica do organismo à vacinação.
Entretanto, o que se observa é que alguma resposta imune deve acontecer, apesar dos tratamentos, pois mesmo com essa possibilidade de “redução de eficácia” a vacina da gripe tem ajudado muito na prevenção de complicações nos pacientes oncológicos.
Tipo de tratamento oncológico e indicação da vacinação
De modo geral, em pacientes em tratamento com medicamentos imunossupressores (quimioterapia), as vacinas virais com vírus ativo atenuado devem ser evitadas. São duas as vacinas com autorização para uso emergencial no Brasil. A vacina Coronavac é elaborada a partir do vírus inativado. Já a vacina de Oxford/Astrazeneca utiliza o vírus vivo modificado. Dessa forma, caso haja possibilidade de escolha, a preferência deve ser pela vacina Coronavac.
Outro ponto de atenção é para pacientes que realizam imunoterapia com medicamentos bloqueadores de checkpoint, especialmente aqueles com câncer de pulmão. Isso porque, embora não esteja claro se há possibilidade de que apresentem complicações ou reações adversas exacerbadas, esses pacientes têm maior risco de complicações pela COVID-19. Assim, a sugestão inicial ao oncologista é de que pacientes em tratamento com bloqueadores de co-receptores imunes realizem a vacinação contra a COVID-19 sem interrupção do tratamento. Isto se não existirem outras contraindicações, considerando-se os riscos e possíveis benefícios.
Quando realizar a vacina
O tratamento oncológico pode interferir e alterar a eficácia da vacina. Logo, o ideal é que a vacinação contra COVID-19 seja feita antes de que o paciente comece a tratar o tumor. Entretanto, mesmo em pacientes que já estão tratando o câncer, é indicado, após avaliação do oncologista, que seja feita a vacinação, pois esta tem caráter protetor, principalmente para esse grupo de risco. Converse com seu oncologista sobre o melhor momento para realização da vacina caso você esteja realizando quimioterapia.
Pacientes que já terminaram o tratamento contra o câncer também devem ser vacinados. Bem como deve ser imunizada a equipe de saúde envolvida no tratamento dos pacientes oncológicos. A vacinação da equipe é especialmente importante para pacientes imunocomprometidos. Pois assim garantimos a segurança de todos.
A vacinação também é indicada, salvo alergias a componentes da vacina, para pacientes que já tiveram a COVID-19, mesmo que apresentem anticorpos contra o vírus.
Conclusão
Em síntese, a indicação inicial é de que a vacinação seja realizada. Tal orientação é válida para pacientes com diagnóstico ou que estejam em tratamento contra o câncer. Evidentemente, a decisão final deve ser tomada conjuntamente, entre oncologista e equipe multidisciplinar que trata o paciente e o próprio paciente.
É muito importante que a família e contactantes próximos dos pacientes também sejam vacinados. Durante a quimioterapia, a produção de anticorpos após a vacina pode ser menor (pelo efeito da quimioterapia no sistema imune). Por isso é fundamental que indivíduos saudáveis próximos ao paciente estejam imunizados, assim o paciente acaba ficando protegido também.
Vale ressaltar que a vacinação não deve mudar os comportamentos de precaução necessários. O uso de máscara, distanciamento social e higiene frequente das mãos deve seguir como parte de nossa rotina.
Referências bibliográficas
SBOC. Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. COVID-19: vacinação de pacientes oncológicos. Janeiro, 2021.
A.C.Camargo Cancer Center. Recomendações de vacinação para SARS CoV-2 em pacientes tratados no AC. Camargo Cancer Center. Janeiro, 2021.